domingo, 13 de maio de 2007

O homem que você ama

Evelyn Waugh, o homem que você ama.

O homem que você ama não é um daqueles – ouso chamá-los de homens – Homens Que Vemos Por Aí, passeando com camisetas do Chad Guevara, e também não é, acredito, o Sanjaya Malakar, embora o Sanjaya tenha algo cool, não atraente, decerto, mas cool, amigo gay, como um chaveirinho japonês que você teve a chance comprar, um dia (mas que nunca o fez, azar, guardando-o para sempre no seu baú de Coisas Jamais Concretizadas).

O homem que você ama, pense, está, neste minuto, fumando um cachimbo. Em um escritório, provável. Aquecido, provável. Com uma paisagem hostil, neve e vento aguardando-o do lado de fora, mas está bem, ele, o seu homem, lendo Blandings Castle e pensando no dia anterior, quando Yves Nancy cometeu o erro de chamá-lo de calhorda pelas costas. “O que você disse?”, perguntou o homem que você ama; “Calhorda”; “O que você disse?”. E o homem que você ama dobrou as mangas e passou os cabelos para trás: “Dê o melhor de si, senhor”. Yves Nancy voltou para casa com o nariz quebrado; Yves Nancy foi parar no chão, dizendo: “Aqui estou, aqui ficarei”.

É um homem fiel a antigos hábitos, aquele que você ama. Toma chá todas as manhãs, com cupcakes, e todas as manhãs se encontra com os Cavalheiros de Mui Respeitável Reputação – não que haja, nos cavalheiros, algo além disso; e não que o homem que você ama realmente goste da companhia dos mesmos cavalheiros, porque, não, ele não gosta, mas são ossos do ofício.

As melhores companhias em que o homem que você ama pode pensar, ele as encontra em tardes nubladas, curvado sobre a escrivaninha, tecendo uma linha cuidadosa de tramas que pode ou não explicar ao final de 200 (duzentas) páginas – preferencialmente, ele não o fará; o homem que você ama não gosta de entregar seus segredos mastigados, mas gosta de Agatha Christie, e gosta do modo como Poirot cuida do bigode.

Quando chega o fim de mais um dia, o homem que você ama se espreguiça lentamente na cadeira. Como Aquiles, ele também cruzou o mar, invadiu praias e arrastou corpos de príncipes pelo chão (não que ele se orgulhe; só um pouco, talvez). Como Aquiles, o homem que você ama também se serviu de uma taça (preenchida até a metade) de vinho tinto. E ali, defronte da lareira, o H.Q.V.A. deu um leve suspiro, o suspiro carregou outros leves suspiros de mil heróis e espantou o fogo. O homem que você ama inspirou o cheiro da madeira queimada e o cheiro da neve. O vento sacudiu a janela, e, no completo breu, de olhos arregalados, o homem que você ama comentou: “Curioso, muito curioso”; e a escuridão respondeu: “Precisamente, senhor”

2 comentários:

Ricardo de Brito disse...

Um espartano com costumes vitorianos e que sabe usar a tecnologia, ao invés de deixar a tecnologia usá-lo - como acontecia na extinta URSS.

Clara Madrigano disse...

Posso aceitar que ele seja caolho, também.